Muitas pessoas estão se perguntando:
“Mas ela não era vegetariana?”.
Sim, eu era! Mas voltei a comer carne. E aqui eu vou explicar o por que:
Eu nasci e cresci em SP. Sempre fui muito urbana. Sempre amei a natureza, mas não a entendia realmente. Para mim, natureza era um lugar mágico, floresta, praia, mar, montanhas e um refúgio da minha vida da cidade.
Comecei a ser vegetariana depois de ver aqueles filmes horríveis mostrando a criação intensiva e industrial de animais. Também acreditei em muita informação que escutava com argumentos convincentes contra a indústria da carne, mas que no fundo não eram contra o consumo de carne. E mesmo que eu ainda concorde que este tipo de produção não seja a produção ideal e que eu ainda não apoie, eu não sabia que existiam outras formas de criação animal.
Quando estávamos na Austrália trabalhando com um apicultor, um livro na estante dele me chamou muito a atenção. Ele tinha na capa um aborígine da Austrália e se chamava “Nutrition and Physical Degeneration”. Ele foi escrito por Weston A. Price, um dentista canadense que na década de 1930 viajou pelo mundo para estudar a dieta dos povos indígenas que comiam exclusivamente alimentos tradicionais locais. Ele comparou a excelente saúde, excelentes estrutura óssea e dentária e estabilidade mental deles aos americanos de sua época, que sofriam de problemas dentários, doenças mentais, alergias, artrite, asma, doenças cardíacas, diabetes, distúrbios digestivos e câncer.
Em todas as suas viagens, ele não encontrou nenhum povo tradicional que não consumisse produtos de origem animal. Pelo contrário, ele relatou várias histórias de como esses povos valorizavam e consideravam sagrada a comida de origem animal. Os grupos que Price estudou tinham uma ideia muito diferente de nutrição. Eles valorizavam alimentos como fígado, frutos do mar, caldo de osso e manteiga. Price usava óleo de fígado de bacalhau, óleo de manteiga e órgãos para fornecer vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) a seus pacientes para tratar diferentes tipos de doenças e cáries.
Uma das histórias que ficou marcada em minha memória foi um relato de Price explicando como os índios americanos sabiam como prevenir o escorbuto (doença causada pela deficiência de vitamina C e que estava atingindo europeus exploradores que não consumiam frutas e verduras frescas durante longas viagens):
“Em uma de suas observações, Weston A. Price descreve um momento em que testemunhou a preparação de um alce por caçadores indígenas. Ele notou que os caçadores extraíam meticulosamente as glândulas suprarrenais do animal. Price ficou intrigado com essa prática e perguntou ao ancião da tribo sobre seu significado. O ancião explicou que essas glândulas eram um componente crucial de sua dieta, especialmente durante os meses de inverno, quando vegetais frescos não estavam disponíveis e o escorbuto era um risco. O consumo das glândulas suprarrenais fornecia nutrientes essenciais, incluindo vitamina C, que ajudava a prevenir a doença. Essa prática demonstrava o profundo entendimento nutricional da tribo e sua capacidade de adaptar a dieta para prevenir deficiências.”
Eles não sabiam o que era vitamina C e nem mesmo que esta doença se chamava escorbuto. Mas eles sabiam que a glândula do alce era o que os deixavam saudáveis em períodos de inverno quando havia o risco deles se adoecerem. Era um conhecimento que foi passado entre gerações.
Este livro me trouxe vários questionamentos e uma curiosidade de ver, ouvir e aprender mais.
Eu e meu marido, além de estar estudando permacultura no momento, começamos a viajar e tentar encontrar pessoas tradicionais pelo mundo para observar, aprender e entender melhor tudo o que estava escrito naquele livro. E aí que as coisas começaram a fazer sentido para nós dois.
Moramos com indígenas em Tonga, visitamos comunidades tradicionais e isoladas em Fiji, Bali e
Cambodia, moramos com pequenos produtores de arroz nas montanhas da Thailandia, vivemos com pescadores e produtores de arroz em uma ilha em Laos, convivemos com campesinos em fazendas tradicionais na India e Noruega, moramos com um pastor de ovelhas na Turquia, visitamos um caçador e campesino na Bosnia. Infelizmente (ou felizmente) temos poucas fotos destes momentos, pois não tínhamos telefone e nem máquina fotográfica nos primeiros 6 anos de nossa viagem. E a verdade é que preferimos estar 100% presente com estas pessoas.
Também trabalhamos em muitas fazendas que aplicam permacultura e agricultura regenerativa e para mim, eles estão todos conectados!
Todos eles vivendo de uma maneira mais sustentável do que eu quando morava em São Paulo e era vegetariana. Todos regenerando meio ambiente através do estilo de vida ou usando animais para a regeneração. E todos entendendo que alimentos de origem animal realmente são sagrados (mesmo na India) e possuem uma nutrição incomparável!
Não estou aqui para julgar e entendo a escolha de quem opta por uma dieta vegetariana. Para mim, no entanto, trata-se apenas de uma ESCOLHA. Algumas pessoas preferem comer carne, enquanto outras não. Mas abster-se de carne, na minha visão, não torna essa decisão automaticamente mais ética ou mais saudável do que a de quem consome carne.
De um ponto de vista ambiental, para mim já fazia muito sentido ter animais para regenerar ecossistemas.
Como escreve Charles Einstein: “Consideramos, por exemplo, uma fazenda agrícola mista tradicional que combina uma variedade de culturas (verduras), pastagens e pomares. Aqui, o estrume não é um poluente nem um resíduo; é um recurso valioso que contribui para a fertilidade do solo. Em vez de tirarem os cereais aos milhões de famintos, os animais que pastam na verdade geram calorias alimentares a partir de terras impróprias para a lavoura. Quando os animais são usados para fazer trabalho – puxar arados, comer insetos e transformar composto – eles reduzem o consumo de combustíveis fósseis e a tentação de usar pesticidas. Os animais que vivem ao ar livre não necessitam de uma enorme quantidade de água para saneamento.
Manejo holístico de vacas na fazenda que meu marido está trabalhando atualmente nos Alpes, França, 2024.
Em uma fazenda que não é apenas uma instalação de produção, mas uma ecologia, o gado tem um papel benéfico a desempenhar. Os ciclos, conexões e relações entre culturas, árvores, insetos, esterco, pássaros, solo, água e pessoas em uma fazenda viva formam uma teia, "orgânica" em seu sentido original, algo de beleza que não pode ser facilmente comparado a uma fábrica de porcos de concreto com 5000 animais.”.
Agora de um ponto de vista nutricional, não é possível comparar alimentos de origem animal com alimentos de origem vegetal. Por exemplo: todos os povos que Price estudou e tinham uma saúde radiante consumiam muito mais vitaminas A, D, e K do que nós, hoje, no mundo moderno. E as melhores fontes biodisponíveis destas vitaminas são sem dúvida provenientes de alimentos de origem animal.
Eu posso falar sobre o que mudou em minha saúde, desde que eu reintroduzi carne (de qualidade, claro) e alimentos de origem animal de volta a minha dieta.
Eu sempre fui viciada em açúcar. Precisava comer chocolate (ao leite) depois de todas as refeições. Ficava estressada se não comia doce. Eu também sempre sofri de candidíase e outros problemas com fungo (como micose) a minha vida inteira. E já tive milhares de infecções urinárias, uma que eu já tive que ficar internada.
Açúcar, fungos e bactérias estão totalmente relacionados. Os fungos se alimentam de açúcar para seu crescimento. Assim como níveis elevados de açúcar na urina podem promover o crescimento bacteriano.
Quando você reduz a quantidade de proteínas (de alta qualidade) na dieta, geralmente é necessário aumentar outro macronutriente. Muitas vezes, optamos por carboidratos, que acabam se transformando em açúcar no nosso organismo.
Desde de que comecei a ter uma dieta baseada em alimentos de origem animal, aumentei meu consumo proteico e consegui diminuir muito meu consumo de carboidratos (açúcar).
Ao nutrir meu corpo com o que ele realmente precisava, consegui quebrar o ciclo vicioso de desejar sempre mais açúcar. Desde então, nunca mais tive problemas com fungos ou infecções urinárias. Já se passaram mais de 8 anos sem precisar de antibióticos ou outros medicamentos. Tenho aprendido cada vez mais como fornecer ao meu corpo os nutrientes necessários para que a famosa frase "Alimentação como medicina" seja, de fato, aplicada no meu dia a dia.
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